sinto-me péssima

Desde aquele dia que aquele ladrão ficou gravado na minha retina. Na verdade, naquele dia nada ficou provado que aquele era o ladrão, mas sempre que o via encolhia-me e pensava: olha é o ladrão espero bem que não entre neste autocarro, ou ainda bem que está ali longe. Não sou só eu que o reconhece... já por várias vezes se ouviu o sururu no autocarro do: olha é o ladrão, tenham cuidado com as carteiras, é ele ali!

Hoje apanhei um susto, quando dei por isso lá estava ele no autocarro e bem ao pé de mim. Encolhi-me um bocado. Será que já me roubou? Não vou abrir a mala senão ele aproveita logo... Reparei que ia outro com ele, faziam de conta que não se conheciam, mas eu notei qualquer coisa.

Na paragem do marquês aproveitaram e roubaram uma velhota. Os dois a bloquear o caminho mas a fazer de conta que estavam a ajudar e nisto vê-se perfeitamente o ladrão a pôr a mão dentro da mala da senhora e a tirar a carteira.

Bloqueei, gelei completamente, queria dizer qualquer coisa, dar-lhes uns tabefes, chamar a polícia, não deixar a senhora sair, fazer qualquer coisa. Bloqueei e não consegui fazer nada. Agora sinto-me péssima.

Fica aqui o aviso que pelos vistos é a única coisa que consigo fazer. É um homem baixo, careca (daqueles só com cabelo de lado), usa uns óculos de massa escura bem grandes, tem uma barriga de grávido, e apanha os autocarros entre os restauradores e o marquês, na direcção do saldanha (44, 45, 36, 90). Eu sei que a descrição assim é capaz de não ajudar, talvez da próxima eu lhe consiga tirar o retrato.